Hábitos do Povo Pantaneiro

Vida pantaneira

        Um estilo de vida que passa de geração a geração. Mais que um modo de viver, o homem pantaneiro criou tradições, hábitos e difundiu técnicas no campo.

        Fala simples, hábitos arraigados, humildade e amor por sua terra, sua cultura e seu trabalho. Este é o homem pantaneiro que há mais de duzentos anos habita a maior planície alagada do mundo, o Pantanal. Essa figura característica da região aprendeu a conviver em harmonia com um universo inundado, úmido e seco. De fato que a formação do pantaneiro têm-se origens indígenas bem como suas características, vivendo homem e natureza de forma amigável um protegendo o outro.

        Seu dia a dia aparenta certa dificuldade onde qualquer outra pessoa não conseguiria vivenciar essas particularidades por não estar habituado com aquele modo de viver.

        Sua integração com a natureza é visível, pois entende os fenômenos naturais sem mesmo nunca tê-los estudado em escola formal. Sabe quando plantar, quando colher, quando apartar o gado... No pantanal há momento certo pra tudo. O pantaneiro se destaca pelo ambiente diferenciado e por atividades ao acordar e dormir que o distinguem dos demais peões. Quem nasceu e criou-se no Pantanal aprende ainda criança a arrumar a tralha, acordar de madrugada, conhecer as ervas medicinais da região, pescar e comer peixes, comer carreteiro e passar o dia no campo.

        O homem do Pantanal aprendeu a retirar do ambiente que o cerca as substâncias especiais para utilização medicinal, herança dos índios - antigos habitantes - e dos povos vizinhos como os paraguaios e bolivianos. Peão ou fazendeiro, integrado a tudo que o rodeia, sabe que as ações da natureza, enchentes e secas, são responsáveis pela riqueza e vida no Pantanal. As distâncias e o difícil acesso às demais regiões fizeram-no acostumar-se ao isolamento e à solidão, o que é quebrado quando ele manifesta o sentimento de cooperação no manejo do gado ou na participação de festas tradicionais em fazendas vizinhas.

        “Ser pantaneiro é amar o que faz, respeitar a natureza e nunca se esquecer das suas tradições”. Assim define os amigos do pantanal.

Na pesca se envolve no silencio dos rios e corixos, paciência e exatidão ao pescar. Tempos atrás os pantaneiros pescavam com arco e flecha. Isso não é caso antigo não... José Rosa, pai do jornalista Walney de Souza, quando jovem em Barão de Melgaço (Porto Brandão) pescava usando flecha, tradição daquela região.

        O pantaneiro nasceu ali, cresceu ali e convive ali. Convivendo na realidade de uma região considerada inóspita, tem como meio de transporte mais utilizado o cavalo pantaneiro, resistente ao trabalho dentro d'água, e as embarcações de variados tamanhos e tipos.

        Nas comitivas pantaneiras são costumeiras e as viagens podem duravam até meses, hoje há casos de semanas. Reúnem dezenas de peões e são necessárias para deslocar o gado de uma propriedade para outra, antes da época de cheia (de outubro a março). Fazem parte da comitiva o ponteiro (quem toca o berrante), o fiador (quem toca a boiada), os peões e os culateiros (quem vai por último, cuidando para que nenhuma rês se perca). “A quantidade de integrantes da comitiva depende do tamanho da boiada, ou seja, quanto mais gado, maior terá de ser a comitiva”, afirmam os vaqueiros.
        Durante os longos dias de viagem, a comitiva que conseguir pouso em alguma propriedade está salva de dormir ao relento, caso contrário, todos se acomodam no corredor (espaço estreito entre uma cerca e outra, dividindo as propriedades).

        No esporte, a atividade do pantaneiro é o laço; antigamente, não havia cercas para contenção do gado e, aos poucos, eles iam se tornando bravos e selvagens, conhecidos como baguás. Assim, a única forma de pegá-los era utilizando o laço, e o homem campeiro, até para sobreviver, foi se tornando um exímio laçador. Com o passar dos tempos, o campeiro de Poconé e da região pantaneira fez do laço mais que um trabalho, mas um hábito, uma arte, e hoje, um hobby. Essa arte foi sendo transmitida de pai para filho, de geração a geração, até chegar à criação dos Clubes de Laço bem como a Associação de Criadores do Cavalo Pantaneiro (ABCCP).

        Nos dias de hoje algumas coisas já se transformaram outras ainda serão modificadas, prova disso são as novas estradas, as pontes, os desmatamentos, até mesmo os caminhões que transportam o gado de fazenda a fazenda, ou da área rural para a urbana para minimizar o tempo gasto no transporte das boiadas, pois acaba lhes tirando a mão-de-obra. A modificação leva para o extermínio do viver e a ecologia nunca mais será a mesma. Os jovens pantaneiros bem que tentam, mas não são como antigamente.

        Para o pantaneiro o viver na imensa área do Pantanal, com suas adversidades não apresenta nenhuma dificuldade, nem rusticidade, porque já está acostumado com isso.

        Nos dias de hoje a tecnologia também contribui, mas as vezes é mais cara e a cobrança é com juros altos.