Desbravadores do pantanal

 

Pintura: Artista descohecido            

                Apesar de suas belezas, viver no pantanal não é tarefa fácil. É difícil adaptar-se ao pulso anual de inundação e ao isolamento promovido pelas águas. Os habitantes da planície são conhecedores de plantas medicinais e das condições do clima. O vaqueiro pantaneiro guarda consigo conhecimentos de toda dinâmica do Pantanal - aprendizado necessário àqueles que precisam conduzir o gado pelas vazantes para escapar das enchentes, pois formam-se até hoje grandes comitivas de gado que atravessam os pantanais. Muitos peões pantaneiros são descendentes de paraguaios que migraram procurando trabalho após a guerra do Paraguai (1864-1970). Entre suas habilidades estão a doma do cavalo e a confecção de artefatos de couro.

                Os piscosos rios proporcionaram uma cultura de pesca em toda a região. O pescador pantaneiro, pela observação do ambiente, tornou-se conhecedor do comportamento dos peixes; sabe em quais partes do rio a fauna aquática costuma se abrigar e pela observação do nível das águas reconhece se vai dar peixe.

                Na culinária destacam-se o peixe na brasa, o ensopado, o pirão e o caldo de piranha, o arroz carreteiro feito de carne seca, a banana da terra com farinha, o guisado de mandioca, a galinhada e a mandioca cozida, servida com o churrasco pantaneiro - assado num braseiro cavado na terra e espetado, em grandes pedaços, em estacas de madeira rústica.

                Considerado um povo festeiro, aniversários e datas religiosas eram motivos para promover grandes festas nas fazendas para as quais as famílias se deslocavam em carros de boi. Alguns fazendeiros procuram manter essa tradição, mesmo com nuances mais modernas. Muitas festas de cunho religioso católico são registradas em todos os municípios pantaneiros de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

                Pesquisadores já estão detectando transformações do modo de viver das populações pantaneiras. A chegada das redes de comunicação (TV e rádio) provoca novos anseios relativos ao consumo. Hoje os fazendeiros, em sua maioria, não moram nas fazendas, e o contato dos funcionários com o ambiente urbano é cada vez maior, pelas facilidades trazidas pelas estradas e necessidades criadas pelas relações econômicas. Novas modalidades de trabalho, como piloteiros e isqueiros, passaram a existir com a propagação do turismo de pesca e, em menor escala, o ecoturismo ou turismo contemplativo.

Texto Inspirado em registros de Allison Ishy e Yara Medeiros