Cavalhada

 

            No interior do Brasil, no estado de Mato Grosso, no coração do Pantanal ainda se pode ver dramatização da luta entre mouros e cristãos. É a Cavalhada de Poconé que retrata a épica luta entre Mouros e Cristãos pela conquista do Centro Norte da Europa é revivida.

            A Cavalhada é formada por dois exércitos: o cristão, com indumentária azul e o mouro (muçulmano), que usa vestimentas vermelhas. O símbolo do exército cristão, azul, é a cruz, enquanto o da tropa rival, o vermelho mouro, é uma lua e uma estrela. Cada exército é formado por 12 soldados, sendo um mantenedor, que comanda o grupo, e um embaixador, que leva à tropa inimiga as mensagens dos soldados.

            A batalha começa quando o exército cristão (azul) rapta a rainha dos mouros (vermelho), sendo uma alusão ao mito de Helena de Tróia. Apesar do rapto a rainha da tropa vermelha se apaixona pelo rei cristão. Após tomar a rainha, o exército azul incendeia o castelo mouro. Em resposta os mouros declaram guerra contra os inimigos. As diversas batalhas travadas entre as duas tropas são representas por meio da realização de provas hípicas.

            Existe na ordem natural das provas uma mesa julgadora que avalia cada cavaleiro e soma cada ponto ganho, vence ao final o grupo de cavaleiros (Mouro ou Cristão) que obtiver mais pontos. A torcida vibra e celebra com seus heróis o sabor da vitória convidando o grupo derrotado para participar da festa.

            Apesar dessa comemoração vitoriosa a história conta que o exército cristão derrota os raptores, que são obrigados a devolver a rainha para seu povo e isso é encenado também na arena independente do resultado das provas. A Cavalhada simboliza o ideal de supremacia religiosa do cristianismo e durante o século 18 foi usada para incentivar a instituição da fé cristã e o repúdio aos mouros na Europa. Em Portugal ela teve feição cívico-religiosa envolvendo temas do período da Reconquista. Sua difusão no Brasil, registrada desde o século 17, partiu do Nordeste e espalhou-se pelo resto do país. Em 1641, quando da aclamação de D. João IV, foram promovidas várias cavalhadas como parte dos festejos oficiais.

            No Brasil essa tradição chegou por volta de 1756 e era utilizada como forma de treinamento para os cavalos, uma vez que as batalhas são representadas por provas hípicas, além de ser uma forma de reviver as tradições históricas.

            A festividade foi difundida por diversos estados como Bahia, São Paulo, Goiás e Mato Grosso. A Cavalhada chegou no Estado por volta de 1769, com a vinda do terceiro capitão-geral de Mato Grosso, Luiz Pinto de Souza Coutinho.

            A Cavalhada se fixou em Poconé devido à religiosidade da população e a cultura local de louvor aos santos. Apesar da devoção a manifestação se ausentou do cenário cultural mato-grossense por 35 anos, de 1956 a 1991, quando foi revivida a partir organização da própria comunidade, que decidiu retomar o festejo. Dessa forma, a Cavalhada, palco de torneios medievais acirrados em arenas européias, ganhou destaque na tradição e cultura mato-grossense. Naquele ano, em 1991, eram Festeiros o Rei Afrânio e a Rainha Nilza Figueiredo, mesmo com muitos desafios, os organizadores e os devotos conseguiram realizar a Cavalhada no antigo parque de exposição da cidade, próximo ao rio Bento Gomes.

            A Cavalhada em Poconé costuma ocorrer por ocasião dos Festejos de São Benedito no início de junho, mas nem sempre foi assim, no início do século a festividade acontecia ao final da Festa do Divino Espírito Santo, o local era no espaço onde é hoje a praça central da cidade.

            Ali logo em frente a Igreja Matriz, existia um enorme chapadão (pedra canga sobre o chão) onde eram realizadas as provas e as encenações da Cavalhada, isso ocorreu até 1956, quando foram interrompidas as cavalhadas.

            A Cavalhada, desde seu retorno, como foi um representante da irmandade de São Benedito (grupo que organiza a Festa de São Benedito) que mobilizou a população local para revitalizar a manifestação, a Cavalhada foi incluída nas comemorações feitas para o santo. Cerca de 15 dias antes da comemoração os cerca de 24 cavaleiros, todos diplomados pela Ordem de Cavaleiros de São Benedito (pertencentes à irmandade de São Benedito), começam o treino. Os cerca de 48 cavalos utilizados são disponibilizados por fazendeiros da comunidade.

            Cada ano a Cavalhada tem à frente uma rainha diferente, antigamente a causadora da disputa entre mouros e cristãos era escolhida pelos próprios cavaleiros. No entanto, desde que a festa foi revitalizada, no início da década de 90, houve uma reestruturação na forma de escolher quem vai representar a personagem. Desde que a irmandade de São Benedito assumiu a organização da festa, a escolha da rainha é feita pelo Capitão do Mastro, pessoa responsável pela organização da Cavalhada e escolhida por meio de sorteio.

            Entre os cavaleiros também existe a passagem de posto entre pai e filho. Caso o patriarca não tenha filhos, são escolhidos sobrinhos ou familiares. Apenas se não houver ninguém da família para dar continuidade a representação assumindo o papel de cavaleiro é que são escolhidas pessoas de fora, mesmo assim integrantes da irmandade de São Benedito.

            Outros dois personagens, o de Imperador e Imperatriz ou Rei e Rainha da festividade, ambos escolhidos por sorteio, também fazem parte da organização do evento. O Imperador faz o levantamento do mastro com a Bandeira de São Benedito (sinal do início da festa) e, juntamente com a Imperatriz, é o principal responsável pela realização da comemoração.