Dança do Congo

A Dança do Congo geralmente faz parte das comemorações festivas no município de Nossa Senhora do Livramento, em especial nos festejos religiosos e mais recentemente em encontros culturais.
Essa dança é característica do folclore mato-grossense, tendo em vista existir em outras cidades do estado, com maior tradição na primeira capital mato-grossense, a cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade.
A Dança do Congo é também chamada Congadas. É de origem autenticamente africana. A dança de congos é de característica dramática e a indumentária colorida associada ao uso de espadas, simboliza a luta entre dois potentados africanos, um representando a nação do Rei de Portugal, o dominador e o outro representando a nação do Rei Congo (ou seja, a África negra dominada).
Constitui-se de duas partes bem distintas, a cantiga e a embaixada. Nas cantigas (também chamada de cortejo real), que é a parte mais livre do bailado, destacam-se as canções, marchas, louvações religiosas, danças totêmicas e danças que refletem os costumes e os trabalhos tribais. A embaixada, como o próprio nome diz, se constitui de grupos de representantes dos dois reis e geralmente com mensagens de guerra. É a parte mais dramática da dança, com peças coreográficas fixas e com uma seqüência de temas pré-determinados e lógicos.
O motivo fundamental desta segunda parte da dança é a louvação a São Benedito, o santo que representa todo o poder final de restituição da paz e do perdão entre os grupos em conflito.
O congo é uma expressão cultural que envolve música e dança, criada principalmente por descendentes de africanos. A tradição de Nossa Senhora do Livramento, no Mato Grosso, é em homenagem a São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e São Gonçalo. Durante as encenações são recriados personagens da época colonial do Brasil, tais como reis, príncipes e duques.
O grupo de Congo de Nossa Senhora do Livramento nasceu na comunidade quilombola da Mata Cavalo, há mais de 150 anos. A festividade é um teatro popular que encena uma guerra entre dois reinos, o do Congo (representado pela cor vermelha, em homenagem aos negros oriundos de Minas Gerais) e o Monarca (representado pela cor azul, homenageando o povo africano de Massangana e Luanda).
Conheça as personagens e vestimentas:
Rei do Congo - autoridade máxima vermelha, responsável por liderar a dança. Usa calça e saiote branco; blusa coroa e capa vermelha com estrelas e duas espadas cruzadas bordadas nas costas.
Rei Monarca - autoridade máxima azul. Suas roupas são como as do Rei do Congo, porém azuis. Em sua capa estão bordadas estrelas prateadas e uma coroa.
Príncipes - crianças entre 8 e 12 anos, vestidas semelhantes aos reis. São uma homenagem a São Gonçalo. Trazem em punho uma espada e a bandeira com o símbolo de seus respectivos reinados.
Generais - Usam capas, porém mais curtas que a do rei. O chapéu tem o formato de canoa, no estilo Napoleão Bonaparte. Empunha espadas e na hora da guerra se enfrentam para defender o reino.
Pés-de-fila - Soldados-líder que ligam a corte aos soldados, cantando e tocando os instrumentos
Mucuache - mensageiro do Rei de Congo. Faz brincadeiras ao longo das apresentações, fazendo traquinagens na corte alheia e provoca a guerra entre os reinos.
Secretário - mensageiro do Rei Monarca. Lidera a prisão do Mucuache.
Duque - Atende ao príncipe Monarca, fazendo a soltura do rei do Congo.
Caranguejis - Meninos de até 12 anos que se vestem como os soldados, acampanhando-os.
A guerra:
Toda a encenação começa quando o Rei do Congo pede ao Mucuache que leve uma mensagem ao Rei Monarca, anunciando que irá tomar seu reino. Ao chegar à corte Monarca, o mensageiro entrega a mensagem, porém permanece no reino fazendo traquinagens e deboches, o que o leva a ser preso.
Ao saber dos últimos acontecimentos, o Rei do Congo vai pessoalmente até o reino Monarca para pedir que seu Mucuache seja solto e que o Rei Monarca entregue seu Reino. O pedido de libertação do mensageiro desaforado é aceito, porém este volta a fazer suas brincadeiras e provoca uma guerra entre os dois reinos.
As guerras são travadas entre os soldados, com suas espadas de madeira e também entre os reis, com seus instrumentos musicais. Após um longo tempo de batalha, o Rei Monarca perdoa os devaneios do outro soberano, acabando com o conflito.
A festa na cidade:
"A dança do congo primeiramente só era dançada durante as festas de São Benedito, até mesmo porque a tradição homenageia São Benedito e Senhora do Rosário", explica Antônio João Batista Campos de Arruda, Rei do Congo. A congada começa às oito da manhã com uma missa na Igreja de Nossa Senhora do Livramento, seguido de um chá com bolo para os participantes. Na seqüência os congadeiros saem à rua para começar o teatro. As encenações das batalhas chegam a durar duas horas, com no mínimo vinte soldados em cada reinado.
A nova geração:
A tradição da congada em Livramento ainda é bem presente, movimentando grande parte da comunidade. As novas gerações estão conhecendo cada vez mais a tradição e também se interessando em participar da congada. Atualmente há um grupo de congadeiros mirins, que começou a dançar e se apresentar esse ano. "A nova geração vai muito pelo incentivo. Você começa a dançar desde pequeno e vai evoluindo dentro do grupo", comentou o Rei de Congo.